quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Propércio


Queridos e parcos leitores deste bloguezinho coxo, como bem o sabem, o onagra-blogue insiste na chã militância de transcrições provindas da língua estrangeira e é novamente, com grande atrevimento e não sem presunção que nos desculpo pela audácia de lançar ao mula manque este casalzinho de poesias latinas, coruscantes e preciosíssimas péro-líricas. Traduções feitas por Dom Diego Scalada himself, diretamente do latim, itself. Bom apetite!


– Quer dizer então que nosso amigo Sexto Propércio foi displicentemente malhado em português?

– Sim foi, com a sanha e a cisma de quem verteu o cujo ao nosso tão estimado vernáculo.

– Diga-me pois, quem concebeu a animosidade oportuna a este fastidioso traslado?

– Foi Carol Grego Donadio, que nos trouxe os carmens ainda frescos dos limosos sebos de Roma!

– Oba! já sinto o cheiro da carcaça...de onde vem este aroma então, que sabe à elegia malfadada com requintes de escracho?

– Oras, vem daqui mesmo, cuida o passo que ali vamos, logo abaixo, se tropeças terás o mesmo fado do citado desgraçado!



Sexto Propércio, poeta elegíaco romano (*50-45 a.c +14 a.c?)

III 24

É Falsa, ó mulher, esta convicção em tua beleza,
outrora, tu pareceu demasiado altiva a meus olhos.
Nosso amor, Cíntia, a ti dedica tais elogios,
E te envergonhas ser celebrada em meus versos.
Te louvei combinada em vários e belos arranjos,
mas o amor julgava ser aquilo que de fato não eras;
e tua cor, tantas vezes comparada à rósea alba,
mas estava em teu rosto a candura que em ti buscava!
Pois a mim, meus velhos amigos não puderam corrigir,
Nem feitiços tessálicos puderam ser dissipados em alto mar,
Isto, eu em naufrágio, não pelo ferro nem pelo fogo,
Mas (direi a verdade) pelas próprias águas do Egeu o fiz.
Cativo, fustigava-me o cruel bronze de Vênus,
E prostrado, havia sido derrotado de mãos atadas.
Mas eis que minhas ornadas naus tocaram o porto,
contornadas as Syrtes, a ancora por mim foi lançada.
Finalmente, extenuados, restabelecemo-nos da grande agitação,
Somente agora fecham-se as feridas e curam-se as chagas.
Ó Razão, se és uma Deusa, ofereço-me em teus santuários,
Pois todos os meus votos passaram batidos à surdez de Júpiter!

III 24

Falsa est istatuae, mulier, fiduciaformae,
olimoculisnimiumfactasuperbameis.
noster amor tribuittibi, Cynthia, laudes:
versibusinsignem te pudet esse meis.
mixtam te varia laudavisaepe figura,
ut, quod non esses, esse putaret amor;
et color est totiensroseocollatusEoo,
cum tibiquaesitus candor in ore foret.
quodmihi nonpatriipoterantavertereamici,
eluereaut vasto Thessala saga mari,
hoc ego non ferro, non ignecoactus, et ipsa
naufragusAegaea (vera fatebor) aqua.
correptussaevoVeneristorrebaraeno;
vinctus eram versas in meatergamanus.
ecce coronataeportumtetigerecarinae,
traiectaeSyrtes, ancora iactamihi est.
nunc demum vasto fessiresipiscimusaestu,
vulneraque ad sanum nunc coieremea.
Mens Bona, si quadea es, tua me in sacraria dono!
exciderant surdo totmea vota Iovi.



III 25

Durante a ceia, fui alvo de riso entre os convivas,
e sobre mim discursavam em apurado tom de burla.
Nestes cinco anos, pude ser-te escravo fiel:
Roendo as unhas, inda hás de inquirir minha fidelidade.
Não me comovem as lágrimas, fui ludibriado por ardis,
porque sempre dissimulando, Cíntia, costumavas chorar.
Partindo hei de chorar, mas o choro vence a ofensa,
e tu bem convinhas em não te deixares ser submetida.
Já as soleiras em pranto não bastavam às nossas palavras,
Nem mesmo tua porta foi quebrada por minhas iradas mãos.
Que recaia em ti o peso do anos, pois a idade ocultas,
e que nasça em tua feição sinistras rugas!
E então desejarás arrancar o cabelos brancos desde a raiz.
Ah! O espelho há de censurar tua velhice,
Tu quando velha, a custo suportarás o que a outros fizeste.
Estas desgraças minha página a ti cantou:
Aprenda pois a temer o fim da tua beleza!

III 25

Risus eram positis inter conviva mensis
et de me poteratquilibet esse loquax.
quinquetibipotuiservirefideliterannos:
unguemeammorsosaepequererefidem.
nilmoveorlacrimis: ista sum captusab arte;
semper ad insidiis, Cynthia, flere soles.
flebo ego discendens, sedfletuminiuravincit:
tu bene conveniens non sinis ire iugum.
limina iam nostrisvaleantlacrimantiaverbis,
nectamenirataianuafractamanu.
at te celatisaetas gravis urgeatannis
et veniatformae ruga sinistra tuae!
Velleretumcupiasalbos a stirpecapillos,
a! Speculo rugas increpitantetibi,
exclusa inque vicem fastuspatiaresuperbos
et quaefecistifactaqueraris anus!
hastibifataliscecinitmea pagina diras:
eventumformaediscetimeretuae!


tradução: Diego Scalada

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