É com grande atrevimento e não sem presunção que os desculpo pela audácia de lançar ao mula manque este casalzinho de poesias latinas, coruscantes e preciosíssimas péro-líricas. Pois, hoje em dia, o que nos vêm à tona quando pensamos em poesia antiga? À grosso modo, dos recém-antigos: Bilac, Garret, Castro Alves, Cesário Verde etc. Dos semi-antigos: os louváveis Cervantes e Camões, depois os cancioneiros, trovadores, provençais e... “pluft”, aos não debruçados no assunto. Sendo assim, vai aqui uma pequena amostrinha da poética de Marcial e Catulo, respectivamente. Dois poetas romanos em gênero e época distintos. O primeiro da segunda metade do século I d.c, escreveu vários livros de epigramas e ficou célebre pela acidez e ironia de seus versos. O segundo, poeta lírico, Veronense da última metade do século I a.c, é considerado como um dos que mais inovaram a poesia até então produzida.
Há ainda, uma escassa prole de leitores, cabisbaixos e acuados aspirantes à literatos nos corredores sombrios das universidades, último reduto onde ainda são lidos, e onde aprendem a cultivar ,por prazer ou ofício, o verso latino. Eis então meus esboços de tradução, de fato, trabalhosa, porém muito deleitosa, e espero move-los de alguma forma, com esse sumo claudicante e jujurássico implorando difusão, bom apetite!
9.81 |
Lector et auditor nostros probat, Aule, libellos, Sed quidam exactos esse poeta negat Non nimiu curo: nam cenae fercula nostrae Malim conuius quam placuisse cocis. Martialis |
Leitor e ouvinte aprovam, Aulo, nossos livrinhos Mas certamente o poeta nega que sejam bons Não me importa: pois que o prato de nossas ceias Antes agrade aos convivas que os cozinheiros. Marcial |
XIII |
Cenabis bene,mi Fabulle, apud me paucis, si tibi di favent, diebus, si tecum attuleris bonan atque magnam cenam, non sine candida puella et vino et sale et omnibus cachinnis. Haec si, inquam attuleris, venuste noster, cenabis bene ; nam tui Catulli plenus sacculus est aranearum. Sed contra accipies meros amores, seu quid suavius elegantiusque est: nam unguentum dabo, quod meae puellae donarunt Veneres cupidinesque; quod tu cum olfacies, deos rogabis totum ut te faciant, Fabulle, nasum. Catullus |
Jantarás bem, Fábulo, junto a mim se à ti os deuses ajudarem se contigo trouxeres grande e boa ceia, não sem afável menina, vinho, graças, e toda sorte de risadas. Isso, digo, se trouxeres nosso humor, jantarás bem, pois teu Catulo tem os bolsos cheios de teias de aranha. Tu em troca aceitarás meros amores, e o que tem de mais suave e elegante: pois um perfume te darei, que minhas meninas doaram aos encantos e aos cupidos; e que tu, ao cheirar, rogará aos deuses que o transformem,Ó Fábulo, num só nariz. Catulo Raton |
Meninos de futuro heim...
ResponderExcluir>)
Dom veja que coisa maravilhosa, estes textinhos ainda da aurora pensamental que desabrocham em ironia e desapego, inda que com rebuscamento técnico formal! Nos faz pensar como eram bons ou como somos nós os atrasados
ResponderExcluirrogê
a
ResponderExcluirJuca, tu é soda mesmo; não só pelas traduções (trabalhosas e de qualidade, porém que, considerando sua capacidade E dedicação, não me surpreendem) mas PRINCIPALMENTE pelo seu último post sobre (história -refletida- da) pintura moderna, que quase ouso considerar continuação de seu outro célebre post baseado em seu esmerado tcc.
ResponderExcluirNo entanto, como noto que, menos que no garoto amargo, mas ainda presente no mulamanque, a inveja, ao invés da admiração, ainda desafortunadamente predomina nos comentários ingratos perante seus nobres esforços; com isso, vai - só pelo aspecto lúdico, evidentemente - aí um toque meu mais que ingrato (além de merecedor de Q.I. 65):
Note que se faz desnecessário o uso da preposição "a" na expressão "a grosso modo", devendo-se usar apenas a expressão "grosso modo" sem preposições, posto que a expressão latina está no caso ablativo, o que significa que ela já traz em si, embutida, a preposição.
Rá-rá-rá.
Abraços saudosos. Ever buddy, T. Durden